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A Baía de Todos os Santos

A Baía de Todos os Santos, com superfície de 1.233 km2, é o segundo maior acidente geográfico deste tipo no Brasil, com dimensão inferior à Baía de São Marcos, no Maranhão. A Baía apresenta-se como uma reentrância costeira pela qual o mar penetra no interior do continente a partir de um estreitamento principal entre a Cidade de Salvador e a Ilha de Itaparica. Este estreitamento tem cerca de 9 km de largura e profundidades de até aproximadamente 50m (CRA, 2001). Fazem ainda parte desse sistema duas outras baías de menor dimensão, respectivamente as de Iguape e Aratu e 56 ilhas, sendo a de Itaparica a maior ilha marítima do Brasil, estuários de rios, manguezais, restingas e matas que compõem seus ecossistemas e formam sua paisagem natural.

De paisagem natural e território de ocupação indígena até o século XVI, a Baía torna-se o principal portal de acesso ao território que veio posteriormente a abrigar cidades, vilas, municípios, populações e patrimônio erigido que conformam a paisagem humana e cultural de sua porção insular e entorno.

Seus contornos compreendem catorze municípios situados na porção insular e entorno. Dez daqueles são  banhados por suas águas: Cachoeira, Candeias, Itaparica, Jaguaripe, Madre de Deus, Maragogipe, Salinas da Margarida, Salvador, Santo Amaro, São Felix, São Francisco do Conde, Saubara, Simões Filho e Vera Cruz. Três outros (Cachoeira, São Felix e Santo Amaro) se integram a BTS por meio  do sistema hídrico, da navegação e/ou características culturais compartilhadas. Os catorze municípios abrigam uma população total de 2.783.738 habitantes (IBGE; Censo 2010), contudo, 87,76% desta se encontra no município de Salvador.

Na caracterização do entorno da Baía pode-se considerar apenas as áreas margeadas e suas populações ribeirinhas ou estender seus limites às regiões em que se verifiquem continuidades identitárias importantes. A partir de quais aspectos poderíamos caracterizar o “entorno da BTS e sua extensão” de forma que alcance densidade conceitual, ampliando os limites do reconhecimento estritamente geográfico?

Os problemas de delimitação e conceituação não se restringem ao entorno da Baía. A própria caracterização do Recôncavo não foge às mesmas dificuldades geopolíticas: pesquisadores como Maria Brandão (2007) e Milton Santos, por exemplo, indicam delimitações diferenciadas. Conforme esclarece Brandão (2007), desde meados dos anos 1970 o interesse do Governo Federal foi crescentemente dirigido à Região Metropolitana de Salvador (RMS), provocando uma redefinição do termo “recôncavo”, que passa a excluir a própria RMS e os municípios ao norte e oeste dessa região, ficando restrito à região sul e mais 14 municípios de regiões próximas. Pode-se afirmar, então, que os Recôncavos são muitos e, principalmente, que são “moventes”, tendo os seus limites administrativos, econômicos e culturais se modificado ao longo do século passado.

A controvérsia dos limites é um indicador das diferenças que atravessam o entorno da Baía de Todos os Santos e que marcam fortemente a sua ocupação e o desenvolvimento posterior, conformando, ao longo da história, territórios culturais bem demarcados. Como região subsidiária de Salvador, importante referência da “baianidade”, espaço marcado pela pluralidade e enorme desigualdade social – estas são diferentes possibilidades de se compreender o entorno da Baía (PEDRÃO, 2007).

Atualmente, essas regiões enfrentam novos desafios em razão da intensificação do seu potencial turístico, bem como das novas formas de relação com a capital. Analisando a Baía e as condições de vida das populações do entorno, Brito (2001) afirma que apesar de todos os problemas que envolvem riscos de natureza ambiental, a Baía apresenta condições de retomar a sua importância. Mas para isso, é necessário um grande projeto metropolitano que considere toda a diversidade cultural e ambiental, revitalizando a economia regional sob a forma de investimentos na alternativa representada pela denominada indústria do turismo.

Do ponto de vista das pesquisas sobre a Baía de Todos os Santos, observa-se marcada assimetria entre a importância histórica das regiões do seu entorno para a formação da identidade baiana e a escassez de trabalhos que enfoquem a sua diversidade. Por outro lado, Pedrão (2007) aponta a emergência de novos enfoques que buscam superar a perspectiva tradicional escravista, por meio de uma abordagem mais refinada da complexidade dos processos envolvidos nas transformações históricas da região:

“É um problema de sociologia histórica que leva a substituir termos genéricos, tais como o negro, o índio, os pobres, os senhores de engenho, por terminologia mais específica, que revela a pluralidade. Passa-se a falar de diferentes grupos de negros no ambiente rural e urbana e com diferentes tradições; de diversos remanescentes indígenas e da presença indígena na esfera da escravidão; de multiplicidade de condições de pobreza e de diversos capitalistas (…).” (2007, p. 11)

Como afirma Pedrão (2007), ainda é persistente a falta de articulação entre as perspectivas historiográfica, demográfica, econômica e sócio-antropológica. Às mencionadas perspectivas adicionaríamos outras que transgridem fronteiras disciplinares e campos de saberes científicos, de maneira que seja possível compreender a Baía e suas populações mais vulneráveis – populações que que dependem da atividades  “tradicionais” para sua reprodução – por meio de abordagens articuladas e interdependentes.

Referências
BRANDÃO, M. A. Os vários recôncavos e seus riscos. Revista do Centro de Artes, Humanidades e Letras. v. 1 (1), Salvador, 2007.
CRA. Avaliação das águas costeiras superficiais, BTSPraias de Salvador. Salvador, BA. março/2001. 
PEDRÃO, F. Novos e velhos elementos da formação social do Recôncavo da Bahia de Todos os Santos. Revista do Centro de Artes, Humanidades e Letras. v. 1 (1), 2007.