Lazer e festividades

Lazer e festividades

A linha de pesquisa “Lazer e festividades” tem como objetivos principais:

  • Investigar e mapear a diversidade de formas de sociabilidade que constituem as práticas de lazer e festividades das comunidades vulneráveis da BTS;
  • Identificar, registrar, mapear e disponibilizar informação sobre bens culturais tais como práticas de lazer, festas, rituais e eventos similares;
  • Produzir documentação auditiva e visual sobre o patrimônio cultural da BTS;
  • Oportunizar trocas de saberes acadêmicos e populares, tendo como meta a guarda e ampla disponibilização dos acervos registrados num Arquivo Virtual de Imagem e Som das Manifestações Culturais da BTS;
  • Promover ações de educação patrimonial motivem e estimulem a maior valorização e fortalecimento de vínculos entre a sociedade e seu patrimônio cultural, contribuindo para seu melhor conhecimento e consequente preservação.

Fundamentação teórica

O artigo 216 da Constituição Federal de 1988 já delineava os limites daquilo que a legislação considera, e protege, como patrimônio cultural: “Constituem patrimônio cultural brasileiro os bens de natureza material e imaterial, tomado individualmente ou em conjunto, portadores de referência à identidade, à ação, à memória dos diferentes grupos formadores da sociedade brasileira…”. No âmbito do presente projeto, os bens culturais e de lazer tais como atividades lúdicas, festas, regatas, procissões, rituais e eventos semelhantes serão documentados, valorizados e divulgados através de métodos e técnicas de amplo uso na Antropologia contemporânea com vistas a promover o registro etnográfico dos fenômenos que se quer compreender, em particular, a um de seus campos específicos, a saber: a Antropologia Audiovisual.

Os pesquisadores que estudam o patrimônio cultural do Nordeste Brasileiro geralmente têm a oportunidade de observar e participar de uma série de acontecimentos que são centrais na organização da vida comunitária que estudam. Muitas desses eventos e performances tomam lugar em espaços públicos, onde diversos tipos de audiência estão presentes e as possibilidades de interpretação são diversas. Curiosamente, no entanto, tentativas de representar tais experiências limitam-se ao domínio da escrita, onde movimentos corporais, gestos, palavras e sons (aqui incluindo a música) são reconstituídos somente pela descrição textual.

Na pesquisa se fará uso do registro sistemático através de registros fotográficos, videográficos e sonoros, com vistas a explorar a dimensão corporificada de uma série de eventos que constituem o patrimônio cultural a ser conhecido, documentado e valorizado no contexto da BTS. A investigação e registro etnográfico focalizará as formas através das quais tal patrimônio é publicamente representado, seja por meio da memória social que é evocada pelas narrativas orais, dos cantos, das danas e outra performances corporais constituintes das festas e eventos, de acontecimentos do cotidianos e, portanto, menos extraordinários, por meio dos quais matéria, memória, história e cultura se encontram.

Muito já se disse sobre o fato de que a fotografia e o filme não são fundamentalmente verbais, não se prestando a linhas de raciocínio da mesma forma que a teoria escrita o faz. No entanto tais mídias apresentam uma qualidade sinestésica que nos permite comunicar o sentido de uma experiência corporal/corporificada a qual geralmente está para além das possibilidades do relato ou da documentação escrita (MARKS 2000, XI-XX; POSTMA e CRAWFORD, 2006; MacDOUGALL 1998, 2006; PINK 2007). Ensaios fotográficos e filmes etnográficos têm a capacidade de “recriar contextos específicos, dramáticos, em que forças culturais e sociais são, em última instância, expressas” (MacDOUGALL 1998, p. 262-263). As imagens, assim como os sons, além da capacidade de evocar as experiências de vida das pessoas com que trabalhamos, nos possibilitam trazer à tona as próprias experiências do pesquisador em campo, pois contêm “uma riqueza de associações” igualmente pessoais, históricas e políticas (MacDOUGALL 1998, p. 264), que aponta para “indivíduos únicos em consciência e corpo”, isto é, “cada pessoa como distinguível de todas as demais” (MacDOUGALL 1998, p. 259).

O trabalho com a mídia audiovisual abre, ainda, uma outra porta. Muitas vezes documentos e registros escritos permanecem inacessíveis àqueles que estão fora do âmbito universitário, por razões diversas. Alternativamente, a fotografia, o vídeo e os registros sonoros tornam-se mais facilmente acessíveis a uma audiência não acadêmica, e, portanto, mais abertos a níveis diversos de interpretação. A fotografia, o vídeo e os registros sonoros podem, dessa maneira, ser expostos à apreciação e à crítica daqueles que de alguma forma participam de sua realização, nossos interlocutores no empreendimento da pesquisa. Embora geralmente resultado de projetos acadêmicos, as imagens e registros sonoros aí produzidos ganham vida própria, podendo ser reproduzidos e utilizados pelas mais diversas comunidades envolvidas na pesquisa.