A Linha de pesquisa “Patrimônio Cultural” tem como objetivos principais:
• Identificar, descrever e caracterizar os bens culturais no território, compreendido como espaço físico e simbólico em que se vive e se desenvolve atividades voltadas para garantir a produção e reprodução física dos grupos, reprodução das culturas e das relações sociais;
• Identificar e caracterizar as imagens, paisagens, bens móveis e imóveis, ou seja, o patrimônio material e imaterial existente na BTS;
• Identificar e caracterizar as condições de acesso ao patrimônio material e imaterial, bem como as formas de sua apropriação pelas populações vulneráveis que se encontram presentes no território.
Fundamentação Teórica
Nossa perspectiva de estudo e trabalho compreende que o patrimônio cultural diz respeito às pessoas que vivem ou viveram em determinada localidade; às formas com que se relacionaram entre si e com outros grupos, com a imaterialidade e materialidade dos objetos a seu redor; e com as suas percepções de mundo.
Consideramos que o patrimônio cultural pode ser entendido como: i) referências das identidades sociais; ii) práticas e objetos por meio dos quais os grupos representam, realimentam e modificam identidades e localizam a sua territorialidade. Desta forma, para muitos autores da atualidade, não há sentido em valorizar um patrimônio que não seja reconhecido por aqueles que vivem a seu redor, e/ou que não seja partilhado nas memórias individuais e coletivas locais.
Nas memórias residem aspectos que a população de dada localidade reconhece como elementos próprios da sua história, do espaço onde vivem, das paisagens naturais ou construídas. Ao valorizarmos o conhecimento que uma sociedade ou grupo tem de si, sobre o meio material em que vive e sua própria existência, o objetivo é ampliar o conceito de cultura ao abarcar também as maneiras do ser humano existir, pensar e se expressar, bem como as manifestações simbólicas dos seus saberes, práticas artísticas e cerimoniais, sistemas de valores e tradições.
O patrimônio cultural que, em um primeiro momento, pode ser identificado por determinado grupo como uma casa antiga, o cais, a igreja ou a praça, ao ser tratado de forma mais ampla, como a memória, a história e o patrimônio natural de sua região, torna-se um importante suporte para a construção de identidades locais.
Some-se a isso o fato de pesquisadores na atualidade afirmarem a necessidade de se trabalhar a temática do patrimônio nas escolas, pois sua discussão em sala de aula pode fortalecer a relação das pessoas com suas heranças culturais, bem como ressaltar sua responsabilidade pela valorização e preservação do patrimônio, além de reafirmar a vivência com a cidadania e a memória coletiva de seu lugar.
Para isso, torna-se necessário ultrapassar a barreira construída ao longo dos anos por um conceito limitador de patrimônio, que o colocou como um tema distante, que diz respeito a sujeitos e objetos elevados, elitizados, relacionado a bens materiais de valor monetário – o que torna este conceito algo privado e restrito a poucos. A importância do estímulo à discussão do patrimônio cultural local em sala de aula constitui-se num vetor fundamental para a quebra desta perspectiva. A ação das instituições escolares é peça chave para estimular a reflexão de políticas públicas que tornem o patrimônio cultural parte integrante do cotidiano das pessoas. Pois, a heterogeneidade de nossa sociedade aponta para as dificuldades e as limitações de uma ação pública responsável pela defesa e pela proteção de um patrimônio cuja escolha e definição, implica arbítrio e, em algum nível, exercício do poder.
Salientamos, ainda, que a originalidade da contribuição antropológica à construção e ao entendimento da categoria patrimônio reside, talvez, na ambiguidade da noção antropológica de cultura, permanentemente exposta às diversas concepções nativas. Explorando essa direção de pensamento, é a própria categoria patrimônio que vem a ser pensada etnograficamente, tomando-se como referência o ponto de vista do outro.
Portanto, em que medida essa categoria é útil para entender outras culturas? Em que medida essa nos permite entender o universo social de outras populações? O que podemos afirmar por ora é que, como elos de uma corrente ligando presente e passado, transformando o passado em dimensão do presente, o patrimônio cultural de um grupo é um elemento fundamental para a construção e a consolidação de identidades coletivas. É também o suporte de uma memória plural que ultrapassa tempos e espaços.